Reflexão Episcopal
Igrejas, Seitas Estabelecidas e Seitas
Uma análise das denominações cristãs pelos principais sociólogos da religião no século XX resultou em uma classificação hoje amplamente adotada:
Igrejas: possuem uma história, com mais tempo de existência; se consideram apenas uma parcela de um todo maior: o Cristianismo; possuem uma organização, normas maior, grau de institucionalização, com um núcleo doutrinário central caracterizador, convergente, círculos externos de crenças secundárias com divergências toleráveis (inclusividade), aspectos culturais tidos como “adiáforos” (não sujeitos à legislação normatizadora) incluindo usos, costumes, inserção social e vida privada;
Seitas Estabelecidas: em geral seitas na segunda ou terceira geração, já com ascensão social e educacional dos seus membros, em busca de respeitabilidade e aceitação como uma igreja, mas ainda se vendo como melhor do que as outras, ou portadora de algum componente ético ou doutrinário diferenciador superior, mantendo um certo grau de isolamento e de autoritarismo de suas lideranças, impondo normas comportamentais pessoais ou sociais aos seus membros, com um conceito limitado de privacidade, e pouco espaço para doutrinas periféricas divergentes ou para temas considerados adiáforos;
Seitas: grupos mais novos, altamente isolacionistas, tendência restauracionista (versus a “apostasia geral”), como ente “puro’, ou portador de uma nova mensagem ou nova interpretação “verdadeira”, baixa escolaridade e mobilidade social, alto grau de isolamento, tanto em relação ao Estado e à Sociedade, quanto às outras expressões do Cristianismo, tudo sem ensino e tido como central e essencial, não havendo espaço para divergências ou para aspectos adiáforos ou privacidade, antes, à semelhança das ideologias totalitárias, legislam sobre tudo, de forma uniformizante, com alto grau de controle e disciplina. Os estudiosos percebem graus maiores ou menores em cada um dos modelos, bem como a existência de segmentos minoritários internos: grupos sectários em Igrejas vs. grupos igrejistas nas seitas. O fundamentalismo legalista-moralista, o pentecostalismo e a auto-imagem de se ver como “a” Igreja pela Igreja de Roma e algumas Igrejas Orientais (e a recente intolerância liberal) são variáveis sectarizantes;
As Igrejas protestantes históricas têm tendido a se ver e a agir como Igrejas. Em seus cinco séculos reformados o Anglicanismo procurou ser uma Igreja, apesar de conjunturas e movimentos sectarizantes encontrados em seu interior ou em seu entorno.
Eis um desafio de maturidade espiritual e emocional para todos nós, anglicanos ortodoxos.
Paripueira (AL), 08 de dezembro de 2009.
+Dom Robinson Cavalcanti, ose
Bispo Diocesano
Nenhum comentário:
Postar um comentário