Em poucas palavras, o evangelho é a mensagem de Cristo crucificado, da culpa do homem, do perdão da parte de Deus, do novo nascimento e da vida nova por meio do dom do Espírito Santo. É uma mensagem constituída de quatro assuntos essenciais:
1. O evangelho é uma mensagem a respeito de Deus. O evangelho nos diz quem é Deus, qual é o seu caráter, quais são os seus padrões e suas exigências para conosco, suas criaturas. O evangelho nos diz que devemos nossa existência a Deus; que, para o bem ou para o mal, estamos em suas mãos e sob a sua supervisão; que fomos criados para adorar e servir a Deus, proclamar os seus louvores e viver para a sua glória. Essas verdades são o alicerce da religião teística. E, enquanto elas não forem assimiladas, o restante do evangelho não parecerá nem convincente, nem relevante. É neste ponto, na afirmação da total e constante dependência de seu Criador, que começa a história do verdadeiro cristão.
Nesta altura, podemos aprender novamente de Paulo. Quando ele pregou o evangelho aos judeus, em Antioquia da Psídia, não precisou mencionar o fato de que o homem havia sido criado por Deus. Paulo estava certo de que os ouvintes sabiam disso, pois conheciam a fé do Antigo Testamento. Ele pôde começar dizendo-lhes que Cristo era o cumprimento das esperanças do Antigo Testamento. Mas, quando pregava aos gentios, que não conheciam o Antigo Testamento, Paulo tinha de ir mais atrás e começar desde o princípio. E, nesses casos, o princípio era a doutrina da criação realizada por Deus e o fato de que o homem era uma criatura. Por isso, quando os atenienses lhe pediram que explicasse a sua mensagem sobre Jesus e a ressurreição, ele lhes falou primeiramente sobre Deus como Criador e mostrou-lhes o propósito por que Ele fizera o homem. “Deus... fez o mundo... ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana... para buscarem a Deus” (At 17.24-27).
Isso não era, como alguns supõem, uma parte de um discurso apologético de um tipo que Paulo renunciou posteriormente; era a lição básica e primária da fé teísta. O evangelho começa pelo ensino de que, como criaturas, somos dependentes de Deus e de que Ele, como Criador, tem direito absoluto sobre nós. Somente quando aprendemos isso, podemos perceber o que é o pecado. E somente quando percebemos o que é o pecado, podemos entender as boas-novas de salvação dopecado. Temos de saber o que significa chamar a Deus de Criador, antes de podermos assimilar o que significar falar sobre Ele como Redentor. Nada pode ser obtido por meio de uma mensagem sobre o pecado e a salvação, se, em algum nível, essa lição preliminar não for aprendida.
Nesta altura, podemos aprender novamente de Paulo. Quando ele pregou o evangelho aos judeus, em Antioquia da Psídia, não precisou mencionar o fato de que o homem havia sido criado por Deus. Paulo estava certo de que os ouvintes sabiam disso, pois conheciam a fé do Antigo Testamento. Ele pôde começar dizendo-lhes que Cristo era o cumprimento das esperanças do Antigo Testamento. Mas, quando pregava aos gentios, que não conheciam o Antigo Testamento, Paulo tinha de ir mais atrás e começar desde o princípio. E, nesses casos, o princípio era a doutrina da criação realizada por Deus e o fato de que o homem era uma criatura. Por isso, quando os atenienses lhe pediram que explicasse a sua mensagem sobre Jesus e a ressurreição, ele lhes falou primeiramente sobre Deus como Criador e mostrou-lhes o propósito por que Ele fizera o homem. “Deus... fez o mundo... ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana... para buscarem a Deus” (At 17.24-27).
Isso não era, como alguns supõem, uma parte de um discurso apologético de um tipo que Paulo renunciou posteriormente; era a lição básica e primária da fé teísta. O evangelho começa pelo ensino de que, como criaturas, somos dependentes de Deus e de que Ele, como Criador, tem direito absoluto sobre nós. Somente quando aprendemos isso, podemos perceber o que é o pecado. E somente quando percebemos o que é o pecado, podemos entender as boas-novas de salvação dopecado. Temos de saber o que significa chamar a Deus de Criador, antes de podermos assimilar o que significar falar sobre Ele como Redentor. Nada pode ser obtido por meio de uma mensagem sobre o pecado e a salvação, se, em algum nível, essa lição preliminar não for aprendida.
2. O evangelho é uma mensagem a respeito do pecado. Ele nos diz como estamos aquém dos padrão de Deus, como nos tornamos culpados, impuros e desamparados no pecado e que, agora, estamos sob a ira de Deus. O evangelho nos diz que a razão por que pecamos continuamente é que somos pecadores por natureza, e nada que fazemos pode nos tornar puros e nos trazer de volta ao favor de Deus. O evangelho nos mostra a nós mesmos como Deus nos vê, ensinando-nos a pensar sobre nós mesmos do modo como Deus pensa. Portanto, o evangelho nos leva ao autodesespero. Esse é um passo necessário. Enquanto não aprendermos a necessidade de acertarmos nosso relacionamento com Deus e nossa incapacidade de fazer isso, por meio de qualquer esforço pessoal, não poderemos conhecer a Cristo, que nos salva do pecado.
Existe um perigo aqui. A vida de qualquer pessoa inclui coisas que causam insatisfação e vergonha. Toda pessoa tem uma má consciência a respeito de coisas em seu passado, assuntos nos quais ela ficou aquém do padrão que estabeleceu para si mesma ou que outros esperavam dela. O perigo é que, em nosso evangelismo, podemos reportar-nos a essas coisas, deixar os ouvintes bastante desconfortáveis a respeito delas, e retratar a Cristo como Aquele que nos livra desses elementos pessoais, sem ao menos abordarmos a questão de nosso relacionamento com Deus. Mas essa é a questão que tem de ser levada em conta quando falamos sobre o pecado. Na Bíblia, a própria idéia de pecado é uma ofensa contra Deus, um ofensa que destrói o relacionamento do homem com Deus. A menos que vejamos nossos erros à luz da lei e da santidade de Deus, não os veremos realmente como pecado. O pecado não é um conceito social; é um conceito teológico. Embora o pecado seja cometido pelo homem, e muitos pecados sejam praticados contra a sociedade, o pecado não pode ser definido nos termos do homem ou da sociedade. Nunca sabemos o que é realmente o pecado, se não aprendemos a pensar no pecado nos termos de Deus e a avaliá-lo como Deus o avalia, não pelos padrões humanos, e sim pelo padrão do absoluto direito de Deus sobre a nossa vida.
Temos de compreender que a má consciência do homem natural não é, de maneira alguma, o mesmo que convicção. Por isso, não concluímos que um homem é convencido do pecado, quando se perturba por causa de sua fraqueza e das coisas erradas que fez. Convicção de pecado não significa apenas sentir-se infeliz por causa de si mesmo, de suas falhas e de sua incapacidade de satisfazer às exigências da vida. Tampouco significa que a fé salvadora existe em um homem que está nessa condição e invoca o Senhor Jesus Cristo apenas para lhe trazer alívio, animá-lo e fazê-lo sentir-se novamente confiante. Não estaríamos pregando o evangelho (embora imaginássemos isso), se tudo que fizéssemos fosse apresentar a Cristo em termos das necessidades sentidas do homem: “Você está feliz? Está satisfeito? Quer ter paz de espírito? Acha que falhou? Está cheio de si mesmo? Quer um amigo? Então, venha a Cristo. Ele satisfará as suas necessidades diárias” — como se o Senhor Jesus Cristo devesse ser considerado uma fada madrinha ou um superpsiquiatra. Ser convencido do pecado significa não somente sentir que você é um fracasso total, mas também compreender que você tem ofendido a Deus, zombado de sua autoridade, desafiado-O, agido contra Ele e vivido no erro. Pregar a Cristo significa apresentá-Lo como Aquele que, por meio de sua cruz, coloca o homem no relacionamento correto com Deus.
É verdade que o Cristo verdadeiro, o Cristo da Bíblia, que se revela a nós como Salvador do pecado e Advogado diante de Deus nos dá realmente paz, alegria, vigor moral e o privilégio de sua amizade com aqueles que crêem nEle. Mas o Cristo que é retratado e desejado apenas para tornar mais fácil o quinhão de casualidades da vida, suprindo às pessoas ajuda e conforto, não é o verdadeiro Cristo, e sim um Cristo deturpado e mal compreendido — de fato, é um Cristo imaginário. E, se ensinamos as pessoas a buscarem um Cristo imaginário, não temos qualquer base para esperarmos que elas achem salvação. Temos de acautelar-nos contra o igualarmos a má consciência natural e o senso de infelicidade com a convicção espiritual de pecado, deixando assim, em nosso evangelismo, de incutir nos pecadores a verdade básica sobre a condição deles — ou seja, o pecado deles os tem afastado de Deus, expondo-os à sua condenação, hostilidade e ira, de modo que a primeira necessidade deles é um relacionamento restaurado com Deus.
Existe um perigo aqui. A vida de qualquer pessoa inclui coisas que causam insatisfação e vergonha. Toda pessoa tem uma má consciência a respeito de coisas em seu passado, assuntos nos quais ela ficou aquém do padrão que estabeleceu para si mesma ou que outros esperavam dela. O perigo é que, em nosso evangelismo, podemos reportar-nos a essas coisas, deixar os ouvintes bastante desconfortáveis a respeito delas, e retratar a Cristo como Aquele que nos livra desses elementos pessoais, sem ao menos abordarmos a questão de nosso relacionamento com Deus. Mas essa é a questão que tem de ser levada em conta quando falamos sobre o pecado. Na Bíblia, a própria idéia de pecado é uma ofensa contra Deus, um ofensa que destrói o relacionamento do homem com Deus. A menos que vejamos nossos erros à luz da lei e da santidade de Deus, não os veremos realmente como pecado. O pecado não é um conceito social; é um conceito teológico. Embora o pecado seja cometido pelo homem, e muitos pecados sejam praticados contra a sociedade, o pecado não pode ser definido nos termos do homem ou da sociedade. Nunca sabemos o que é realmente o pecado, se não aprendemos a pensar no pecado nos termos de Deus e a avaliá-lo como Deus o avalia, não pelos padrões humanos, e sim pelo padrão do absoluto direito de Deus sobre a nossa vida.
Temos de compreender que a má consciência do homem natural não é, de maneira alguma, o mesmo que convicção. Por isso, não concluímos que um homem é convencido do pecado, quando se perturba por causa de sua fraqueza e das coisas erradas que fez. Convicção de pecado não significa apenas sentir-se infeliz por causa de si mesmo, de suas falhas e de sua incapacidade de satisfazer às exigências da vida. Tampouco significa que a fé salvadora existe em um homem que está nessa condição e invoca o Senhor Jesus Cristo apenas para lhe trazer alívio, animá-lo e fazê-lo sentir-se novamente confiante. Não estaríamos pregando o evangelho (embora imaginássemos isso), se tudo que fizéssemos fosse apresentar a Cristo em termos das necessidades sentidas do homem: “Você está feliz? Está satisfeito? Quer ter paz de espírito? Acha que falhou? Está cheio de si mesmo? Quer um amigo? Então, venha a Cristo. Ele satisfará as suas necessidades diárias” — como se o Senhor Jesus Cristo devesse ser considerado uma fada madrinha ou um superpsiquiatra. Ser convencido do pecado significa não somente sentir que você é um fracasso total, mas também compreender que você tem ofendido a Deus, zombado de sua autoridade, desafiado-O, agido contra Ele e vivido no erro. Pregar a Cristo significa apresentá-Lo como Aquele que, por meio de sua cruz, coloca o homem no relacionamento correto com Deus.
É verdade que o Cristo verdadeiro, o Cristo da Bíblia, que se revela a nós como Salvador do pecado e Advogado diante de Deus nos dá realmente paz, alegria, vigor moral e o privilégio de sua amizade com aqueles que crêem nEle. Mas o Cristo que é retratado e desejado apenas para tornar mais fácil o quinhão de casualidades da vida, suprindo às pessoas ajuda e conforto, não é o verdadeiro Cristo, e sim um Cristo deturpado e mal compreendido — de fato, é um Cristo imaginário. E, se ensinamos as pessoas a buscarem um Cristo imaginário, não temos qualquer base para esperarmos que elas achem salvação. Temos de acautelar-nos contra o igualarmos a má consciência natural e o senso de infelicidade com a convicção espiritual de pecado, deixando assim, em nosso evangelismo, de incutir nos pecadores a verdade básica sobre a condição deles — ou seja, o pecado deles os tem afastado de Deus, expondo-os à sua condenação, hostilidade e ira, de modo que a primeira necessidade deles é um relacionamento restaurado com Deus.
3. O evangelho é uma mensagem a respeito de Cristo — Cristo, o Filho de Deus; Cristo, o Cordeiro de Deus, morto em favor do pecado; Cristo, o Senhor ressuscitado; Cristo, o Salvador perfeito.
Dois fatos precisam ser esclarecidos a respeito de declararmos essa parte da mensagem. 1) Não devemos apresentar a pessoa de Cristo à parte de sua obra salvífica. Às vezes, alguns dizem que é a apresentação da pessoa de Cristo, e não das doutrinas a respeito dEle, que atrai os pecadores a Ele. Sim, é verdade: é o Cristo vivo que salva, e uma teoria de expiação, embora ortodoxa, não é um substituto para Ele. Contudo, quando fazemos essa observação, o que está sendo sugerido é que a instrução doutrinal é dispensável na pregação evangelística, e tudo que o evangelista precisa fazer é apresentar um quadro vívido do homem da Galiléia, que saía por toda parte fazendo o bem, e garantir aos ouvintes que esse Jesus ainda está vivo para ajudá-los em seus problemas.
No entanto, essa mensagem dificilmente poderia ser chamada de evangelho. Na realidade, seria apenas um enigma, que serviria para mistificar. A verdade é que você não pode sentir a figura histórica de Jesus, se não sabe a respeito da encarnação — ou seja, o fato de que esse Jesus era realmente o Filho de Deus e que se tornou homem para salvar pecadores, de acordo com o propósito eterno de seu Pai. Você também não pode entender a razão da vida de Jesus, se não sabe a respeito da expiação — ou seja, o fato de que Ele viveu como homem para morrer como homem, em favor dos homens; e de que sua paixão e seu assassinato judicial foram realmente sua ação salvífica para remover os pecados dos homens. Você também não pode dizer em que termos se achegou a Cristo, se não sabe a respeito da ressurreição, ascensão e posição celestial — ou seja, o fato de que Jesus foi ressuscitado, entronizado e tornado Rei e de que vive para salvar até ao fim todos os que reconhecem seu senhorio. Essas doutrinas, sem mencionar outras, são essenciais ao evangelho. De fato, sem elas, não teríamos nenhum evangelho para pregar.
2) Há um segundo fato, complementar: não devemos apresentar a obra salvífica de Cristo à parte de sua Pessoa. Pregadores evangelísticos e obreiros pessoais têm, às vezes, cometido esse erro. Em seu interesse de focalizar a atenção na morte expiatória de Cristo, como único fundamento pelo qual os pecadores podem ser aceitos diante de Deus, eles têm exposto nestes termos os convites para que pessoas venham à fé salvadora: “Creia que Cristo morreu por seus pecados”. O efeito dessa exposição é apresentar a obra salvífica de Cristo, realizada no passado, divorciada de sua Pessoa no presente, como o único objeto de nossa confiança. Contudo, isolar a obra dAquele que a realizou não é respaldado pela Bíblia. Em nenhum lugar do Novo Testamento, a chamada à fé é expressa nesses termos. O que o Novo Testamento exige é fé em (em), ou para (eis), ou sobre (epi) o próprio Cristo — o colocarmos nossa confiança no Salvador vivo, que morreu pelos pecados. O objeto da fé salvadora não é, falando estritamente, a expiação, e sim o Senhor Jesus Cristo, que se tornou a expiação. Ao apresentarmos o evangelho, não devemos isolar a cruz e seus benefícios do Cristo a quem a cruz pertencia. As pessoas às quais pertencem os benefícios da morte de Cristo são justas porque confiam em sua Pessoa e crêem não simplesmente em sua morte, mas também nEle, o Salvador vivo. “ Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31), disse o apóstolo Paulo. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
Sendo assim, uma coisa se torna logo evidente: a questão concernente à extensão da expiação, muito debatida em alguns círculos, não exerce qualquer implicação sobre o conteúdo da mensagem evangelística neste ponto específico. Não me proponho a discutir isso agora; já o fiz em outra obra. Não estou perguntado se você acha verdadeira a afirmação de que Cristo morreu para salvar cada ser humano do passado, do presente e do futuro. Também não estou convidando-o a tomar uma posição a respeito desse assunto, se ainda não o fez. Tudo que pretendo dizer é que, embora você pense que tal afirmação é verdadeira, sua apresentação de Cristo, enquanto evangeliza, não deve ser diferente da apresentação daquele que pensa de modo contrário.
O que estou dizendo é o seguinte: é óbvio que, se um pregador acha que a afirmação “Cristo morreu por todos vocês”, proferida a uma congregação, é improvável e talvez não seja verdadeira, ele cuidará para não fazê-la enquanto prega o evangelho. Por exemplo, você não acha tais afirmações nos sermões de George Whitefield ou Charles Spurgeon. Ora, o meu argumento é que, se um pregador acha que tal afirmação é verdadeira, ele não precisa dizê-la e não tem razão para fazer isso, quando prega o evangelho. Pregar o evangelho, como temos visto, significa chamar os pecadores a virem a Jesus Cristo, o Salvador vivo, que, por meio de sua morte expiatória, é capaz de perdoar e salvar todos os que põem a sua confiança nEle. O que tem de ser dito a respeito da cruz, quando pregamos o evangelho, é apenas que a morte de Cristo é o fundamento sobre o qual o homem pode receber o perdão de Cristo. Isso é tudo que precisa ser dito. A questão da extensão específica da expiação não entra em foco na mensagem evangelística, de maneira alguma. O fato é que o Novo Testamento nunca exorta nenhum homem a se arrepender com base no ensino de que Cristo morreu específica e particularmente por ele.
O evangelho não é: “Creia que Cristo morreu pelos pecados de todos e, conseqüentemente, por seus pecados”, como também não é: “Creia que Cristo morreu pelos pecados de certas pessoas e, portanto, talvez não pelos seus pecados”. Não temos qualquer base para exortar as pessoas a colocarem sua fé em qualquer desses pontos de vista sobre a expiação. Nossa tarefa consiste em mostrar-lhes o Cristo vivo e chamá-las a crer nEle. Isso nos leva ao ingrediente final na mensagem do evangelho.
Dois fatos precisam ser esclarecidos a respeito de declararmos essa parte da mensagem. 1) Não devemos apresentar a pessoa de Cristo à parte de sua obra salvífica. Às vezes, alguns dizem que é a apresentação da pessoa de Cristo, e não das doutrinas a respeito dEle, que atrai os pecadores a Ele. Sim, é verdade: é o Cristo vivo que salva, e uma teoria de expiação, embora ortodoxa, não é um substituto para Ele. Contudo, quando fazemos essa observação, o que está sendo sugerido é que a instrução doutrinal é dispensável na pregação evangelística, e tudo que o evangelista precisa fazer é apresentar um quadro vívido do homem da Galiléia, que saía por toda parte fazendo o bem, e garantir aos ouvintes que esse Jesus ainda está vivo para ajudá-los em seus problemas.
No entanto, essa mensagem dificilmente poderia ser chamada de evangelho. Na realidade, seria apenas um enigma, que serviria para mistificar. A verdade é que você não pode sentir a figura histórica de Jesus, se não sabe a respeito da encarnação — ou seja, o fato de que esse Jesus era realmente o Filho de Deus e que se tornou homem para salvar pecadores, de acordo com o propósito eterno de seu Pai. Você também não pode entender a razão da vida de Jesus, se não sabe a respeito da expiação — ou seja, o fato de que Ele viveu como homem para morrer como homem, em favor dos homens; e de que sua paixão e seu assassinato judicial foram realmente sua ação salvífica para remover os pecados dos homens. Você também não pode dizer em que termos se achegou a Cristo, se não sabe a respeito da ressurreição, ascensão e posição celestial — ou seja, o fato de que Jesus foi ressuscitado, entronizado e tornado Rei e de que vive para salvar até ao fim todos os que reconhecem seu senhorio. Essas doutrinas, sem mencionar outras, são essenciais ao evangelho. De fato, sem elas, não teríamos nenhum evangelho para pregar.
2) Há um segundo fato, complementar: não devemos apresentar a obra salvífica de Cristo à parte de sua Pessoa. Pregadores evangelísticos e obreiros pessoais têm, às vezes, cometido esse erro. Em seu interesse de focalizar a atenção na morte expiatória de Cristo, como único fundamento pelo qual os pecadores podem ser aceitos diante de Deus, eles têm exposto nestes termos os convites para que pessoas venham à fé salvadora: “Creia que Cristo morreu por seus pecados”. O efeito dessa exposição é apresentar a obra salvífica de Cristo, realizada no passado, divorciada de sua Pessoa no presente, como o único objeto de nossa confiança. Contudo, isolar a obra dAquele que a realizou não é respaldado pela Bíblia. Em nenhum lugar do Novo Testamento, a chamada à fé é expressa nesses termos. O que o Novo Testamento exige é fé em (em), ou para (eis), ou sobre (epi) o próprio Cristo — o colocarmos nossa confiança no Salvador vivo, que morreu pelos pecados. O objeto da fé salvadora não é, falando estritamente, a expiação, e sim o Senhor Jesus Cristo, que se tornou a expiação. Ao apresentarmos o evangelho, não devemos isolar a cruz e seus benefícios do Cristo a quem a cruz pertencia. As pessoas às quais pertencem os benefícios da morte de Cristo são justas porque confiam em sua Pessoa e crêem não simplesmente em sua morte, mas também nEle, o Salvador vivo. “ Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31), disse o apóstolo Paulo. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
Sendo assim, uma coisa se torna logo evidente: a questão concernente à extensão da expiação, muito debatida em alguns círculos, não exerce qualquer implicação sobre o conteúdo da mensagem evangelística neste ponto específico. Não me proponho a discutir isso agora; já o fiz em outra obra. Não estou perguntado se você acha verdadeira a afirmação de que Cristo morreu para salvar cada ser humano do passado, do presente e do futuro. Também não estou convidando-o a tomar uma posição a respeito desse assunto, se ainda não o fez. Tudo que pretendo dizer é que, embora você pense que tal afirmação é verdadeira, sua apresentação de Cristo, enquanto evangeliza, não deve ser diferente da apresentação daquele que pensa de modo contrário.
O que estou dizendo é o seguinte: é óbvio que, se um pregador acha que a afirmação “Cristo morreu por todos vocês”, proferida a uma congregação, é improvável e talvez não seja verdadeira, ele cuidará para não fazê-la enquanto prega o evangelho. Por exemplo, você não acha tais afirmações nos sermões de George Whitefield ou Charles Spurgeon. Ora, o meu argumento é que, se um pregador acha que tal afirmação é verdadeira, ele não precisa dizê-la e não tem razão para fazer isso, quando prega o evangelho. Pregar o evangelho, como temos visto, significa chamar os pecadores a virem a Jesus Cristo, o Salvador vivo, que, por meio de sua morte expiatória, é capaz de perdoar e salvar todos os que põem a sua confiança nEle. O que tem de ser dito a respeito da cruz, quando pregamos o evangelho, é apenas que a morte de Cristo é o fundamento sobre o qual o homem pode receber o perdão de Cristo. Isso é tudo que precisa ser dito. A questão da extensão específica da expiação não entra em foco na mensagem evangelística, de maneira alguma. O fato é que o Novo Testamento nunca exorta nenhum homem a se arrepender com base no ensino de que Cristo morreu específica e particularmente por ele.
O evangelho não é: “Creia que Cristo morreu pelos pecados de todos e, conseqüentemente, por seus pecados”, como também não é: “Creia que Cristo morreu pelos pecados de certas pessoas e, portanto, talvez não pelos seus pecados”. Não temos qualquer base para exortar as pessoas a colocarem sua fé em qualquer desses pontos de vista sobre a expiação. Nossa tarefa consiste em mostrar-lhes o Cristo vivo e chamá-las a crer nEle. Isso nos leva ao ingrediente final na mensagem do evangelho.
4. O evangelho é uma chamada à fé e ao arrependimento. Todos os que ouvem o evangelho são notificados por Deus a se arrependerem e crerem. “Deus... notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (At 17.30), disse Paulo aos atenienses. Quando perguntado por seus ouvintes a respeito do que deveria fazer para realizar as obras de Deus, nosso Senhor respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.29). E, em 1 João 3.23, lemos: “O seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo”.
O mandamento específico de Deus torna o arrependimento e a fé questões de dever; logo, a falta de arrependimento e a incredulidade são retratados no Novo Testamento como pecados muito graves. Esse mandamento universal, como já indicamos, é acompanhado da promessa de salvação para todos os que lhe obedecem. “Por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (At 10.43). “Quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22.17). “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Essas palavras são promessas que Deus honrará enquanto o tempo existir.
Precisamos dizer que a fé não é um sentimento de otimismo e que o arrependimento não é um sentimento de remorso ou pesar. A fé e o arrependimento são atos, atos que envolvem toda a pessoa... a fé é essencialmente lançar a si mesmo e repousar a sua confiança nas promessas de misericórdia que Cristo fez aos pecadores e no próprio Cristo, que fez tais promessas. De modo semelhante, o arrependimento é mais do que tristeza por causa do passado; o arrependimento é mudança de mente e coração, um nova vida de negar-se a si mesmo e servir ao Rei dos reis, em vez de servir ao ego. Dois fato adicionais precisam ser apresentados:
1) Deus exige a fé, bem como o arrependimento. Não basta resolver abandonar o pecado, renunciar hábitos maus e tentar por em prática os ensinos de Cristo, por meio de ser religioso e de fazer todo bem possível aos outros. Anelo, resolução, moralidade e religiosidade não são substitutos para a fé. Se tem de haver fé verdadeira, tem de haver um alicerce de conhecimento: a pessoa tem de saber a respeito de Cristo, de sua cruz, de suas promessas, antes que a fé salvífica se torne uma possibilidade para tal pessoa. Em nossa apresentação do evangelho, precisamos enfatizar essas coisas, a fim de levar os pecadores a abandonarem toda a confiança em si mesmos e a confiarem totalmente em Cristo e no poder de seu sangue redentor, para lhes dar aceitação diante de Deus. Nada menos do que isso é fé verdadeira.
2) Deus exige o arrependimento, bem como a fé. Se tem de haver arrependimento, tem de haver, igualmente, um alicerce de conhecimento... Mais do que um vez, Cristo nos chamou, deliberadamente, a atenção ao rompimento radical com o passado, o rompimento envolvido no arrependimento. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me... e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 16.24-25). “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida [ou seja, em sua estima não os coloca decisivamente em segundo plano], não pode ser meu discípulo... todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26, 33). O arrependimento que Cristo exige de seu povo consiste em uma recusa determinada de estabelecer qualquer limite às reivindicações que Ele faz a respeito de sua vida... Ele não tinha qualquer interesse em reunir multidões de adeptos professos que desistiriam logo que descobrissem o que o seguir a Cristo exigia deles. Portanto, em nossa apresentação do evangelho de Cristo, precisamos mostrar a mesma ênfase a respeito do preço de seguir a Cristo e fazer os pecadores encararem esse preço com sobriedade, antes de instarmos que respondam à mensagem do perdão gratuito. Com honestidade, não devemos ocultar o fato de que, em determinado sentido, o perdão gratuito custará tudo, pois, doutro modo, nosso evangelismo se tornará um tipo de embuste de confiança. E, onde não há um conhecimento nítido e, conseqüentemente, um reconhecimento realista das reivindicações de Cristo, não pode haver arrependimento e, portanto, salvação.
Essa é a mensagem evangelística que somos enviados a pregar.
O mandamento específico de Deus torna o arrependimento e a fé questões de dever; logo, a falta de arrependimento e a incredulidade são retratados no Novo Testamento como pecados muito graves. Esse mandamento universal, como já indicamos, é acompanhado da promessa de salvação para todos os que lhe obedecem. “Por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (At 10.43). “Quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22.17). “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Essas palavras são promessas que Deus honrará enquanto o tempo existir.
Precisamos dizer que a fé não é um sentimento de otimismo e que o arrependimento não é um sentimento de remorso ou pesar. A fé e o arrependimento são atos, atos que envolvem toda a pessoa... a fé é essencialmente lançar a si mesmo e repousar a sua confiança nas promessas de misericórdia que Cristo fez aos pecadores e no próprio Cristo, que fez tais promessas. De modo semelhante, o arrependimento é mais do que tristeza por causa do passado; o arrependimento é mudança de mente e coração, um nova vida de negar-se a si mesmo e servir ao Rei dos reis, em vez de servir ao ego. Dois fato adicionais precisam ser apresentados:
1) Deus exige a fé, bem como o arrependimento. Não basta resolver abandonar o pecado, renunciar hábitos maus e tentar por em prática os ensinos de Cristo, por meio de ser religioso e de fazer todo bem possível aos outros. Anelo, resolução, moralidade e religiosidade não são substitutos para a fé. Se tem de haver fé verdadeira, tem de haver um alicerce de conhecimento: a pessoa tem de saber a respeito de Cristo, de sua cruz, de suas promessas, antes que a fé salvífica se torne uma possibilidade para tal pessoa. Em nossa apresentação do evangelho, precisamos enfatizar essas coisas, a fim de levar os pecadores a abandonarem toda a confiança em si mesmos e a confiarem totalmente em Cristo e no poder de seu sangue redentor, para lhes dar aceitação diante de Deus. Nada menos do que isso é fé verdadeira.
2) Deus exige o arrependimento, bem como a fé. Se tem de haver arrependimento, tem de haver, igualmente, um alicerce de conhecimento... Mais do que um vez, Cristo nos chamou, deliberadamente, a atenção ao rompimento radical com o passado, o rompimento envolvido no arrependimento. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me... e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 16.24-25). “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida [ou seja, em sua estima não os coloca decisivamente em segundo plano], não pode ser meu discípulo... todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26, 33). O arrependimento que Cristo exige de seu povo consiste em uma recusa determinada de estabelecer qualquer limite às reivindicações que Ele faz a respeito de sua vida... Ele não tinha qualquer interesse em reunir multidões de adeptos professos que desistiriam logo que descobrissem o que o seguir a Cristo exigia deles. Portanto, em nossa apresentação do evangelho de Cristo, precisamos mostrar a mesma ênfase a respeito do preço de seguir a Cristo e fazer os pecadores encararem esse preço com sobriedade, antes de instarmos que respondam à mensagem do perdão gratuito. Com honestidade, não devemos ocultar o fato de que, em determinado sentido, o perdão gratuito custará tudo, pois, doutro modo, nosso evangelismo se tornará um tipo de embuste de confiança. E, onde não há um conhecimento nítido e, conseqüentemente, um reconhecimento realista das reivindicações de Cristo, não pode haver arrependimento e, portanto, salvação.
Essa é a mensagem evangelística que somos enviados a pregar.
Extraído do livro Evangelism & Sovereignt of God. Copyright © 1961. Inter-Varsity Fellowship, England.
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